Seres poderosos


Idarci Esteves

Olhei meu celular de manhã para verificar as mensagens que chegaram à noite. Depois de lidas, entrei no Instagram e, de cara, deparei-me com uma mensagem de venda de camisetas, com dizeres mais ou menos assim: “Ano passado eu morri. Este ano não morrerei”.

Essa frase foi um incentivo para eu associar de imediato, o período de quarentena vivido por nós, desde março de 2020. A Organização Mundial de Saúde decretara estado de pandemia, forçando-nos a viver uma realidade jamais concebida. Interrompeu-se o ritmo previsível da vida, para dar lugar a outro, prevalecendo o inesperado e o distanciamento social.

Nunca imaginaríamos ter de submeter-nos: ao uso constante de máscaras, novas exigências de higiene pessoal, movimento inusitado em hospitais, atemorização constante de doença e morte, exaustão médica, nenhum descanso para a dor e o luto, vacinas, corrupção e tantas coisas mais.

Busco o esforço da palavra certa para dar conta do aspecto sensível que desejo desenvolver aqui. Fiquei a pensar no Coronavírus, nome que ficou conhecido por tanta gente em tão pouco tempo. Carregado de significado e poder, foi capaz de carrear a reboque tantas outras palavras com significados diversos, para que pudéssemos nominar os sentimentos, lutos e expectativas vividos, alterando rotinas e mexendo com nossa sensibilidade.

Muito se falou sobre os vírus. Para combatê-los, as mudanças nos hábitos de vida teriam que ser nossas. Eles viviam suas metamorfoses sem se importarem conosco, tornando confusas e informes nossas histórias de vida cotidiana.

Os vírus surgiram na Terra há bilhões de anos, quando ela, recém-formada, ainda era muito quente e iniciando a vida que a faria pulsar intensamente. Pensar nisso é deslumbrante e assustador ao mesmo tempo. Considerados um dos menores seres existentes, são dependentes de células de outros organismos para se multiplicarem. Antes que se lhes dessem nomes, ao longo dos séculos, já estavam presentes na convivência com os humanos e animais, traçando destinos de vida e morte, assim como nas guerras.

Ciosos de invasões alienígenas em seus espaços, souberam e sabem se defender e manifestam seu poder, atacando o homem em seus deslocamentos pela Terra, dizimando populações. Tem sido assim ao longo do tempo. Por isso, tivemos a gripe espanhola, gripe asiática, AIDS, gripe suína, Ebola, covid-19, para citar só algumas pandemias e ainda temos a varíola, catapora, febre amarela. Atuam com mais rapidez do que os seres humanos e animais. A intensa possibilidade de suas mutações, possibilita a celeridade de sua propagação. É uma competição desequilibrada, na qual os seres vivos ficam com a pior parte.

Mas, sejamos otimistas. O progresso da Ciência nos brindará com vacinas, medicamentos, conhecimentos e a sabedoria, necessários para uma convivência menos dramática e traumática com esses seres tão poderosos, capazes de alterar a história das nações.

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Idarci E. Lasmar

E-mail: idesteves@terra.com.br

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